Muito embora pareça recente a pauta “clima e meio ambiente”, não é de hoje que pessoas de diferentes segmentos vêm apontando alternativas sustentáveis ao planeta. Uma delas data dos anos 1970: Bill Mollison e David Holmgren, professor e aluno, estruturaram os fundamentos da permacultura depois de um profundo estudo sobre o modo de vida dos aborígenes (primeiros habitantes da Austrália). Eles somaram às práticas rudimentares daquele povo os avanços tecnológicos e estabeleceram as bases para iniciativas que podem ser incorporadas por todos e resultarão em um enorme benefício ao que o Papa Francisco denominou de “casa comum”: A Terra.

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Manejo adequado da natureza, habitações sustentáveis e medicina holística são alguns dos elementos da permacultura que trata – em termos gerais – dos seguintes temas: habitação, energia, água, saneamento e alimentação. A partir disso, propõe caminhos que não só evitem degradar o meio ambiente, como também possibilitem uma integração plena do ser humano com a natureza.

Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU, na Cúpula do Clima 2015, alertou: “o tempo avança em direção a uma catástrofe climática.”. Na ocasião, países de diferentes continentes firmaram o compromisso de reduzir a emissão de CO2. Mas essa atitude é apenas a ponta de um fio que se desenrola, sobretudo, em nossa práticas diárias. Há que se mudar, principalmente, os hábitos nocivos arraigados à cultura. “Para nós, antes de ações  sustentáveis práticas, temos que desconstruir nossas ideologias e visões sobre o mundo atual”. Quem fala é Leandro Ortunes, professor de sociologia na Universidade Estácio de Sá (FNC) e diretor-roteirista do documentário A Revolução das Hortas – que realizou para um curso de produção deste formato, abordando a permacultura.

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No filme, Leandro enlaça entrevistas com adeptos de práticas salutares à terra a discursos sobre consumo consciente por parte dos jovens. Um exemplo bem sucedido é a experiência com hortas em escolas, pois não só permite o trabalho com as disciplinas regulares, como também promove o respeito e, até mesmo, certa reverência àquela que provém todos os alimentos. Além do mais, expande a consciência para um modo de vida em que a autonomia seja a palavra da vez e tudo o que exista, de alguma maneira, seja transformado em algo útil sem prejudicar o meio ambiente: “Permacultura é uma oposição à cultura do descarte. É uma cultura permanente. É preciso criar um tipo de vida em que tudo se integre, nada se separe.”, comenta o permacultor Eduardo Bonzatto, no documentário.

Quando Nilson Dias fundou o Instituto Pindorama, na serra do Rio de Janeiro, o que ele pensou foi, exatamente, reunir ali pessoas interessadas em transformar a maneira como vivem. E isso perpassa – justamente – pela mudança de pensamento / comportamento: “Devemos ter consciência de que nossas escolhas de consumo patrocinam empresas e que podemos escolher as empresas que patrocinamos.”, reflete.

Objetivando integrar um modelo de vida que não fuja do possível para a metrópole, ele e outros amigos realizam ali cursos que vão de movelaria com bambu a compostagem e plantio/cultivo de alimentos orgânicos. Boa parte dos frequentadores vivem em áreas urbanizadas e buscam tornar mais saudável a rotina na cidade. “Soluções de permacultura propõem que boa parte dos alimentos podem ser produzidos na área urbana, como já acontece em Cuba, onde 90% das hortaliças são produzidas nos municípios urbanizados, diminuindo drasticamente a necessidade de caminhões (altamente poluentes) para o transporte dos alimentos”. Uma medida simples e acessível. Que tal começarmos uma horta hoje?

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Nilson Dias, Thalles Aguiar e o Bambu SmartPoint

Em 2014, Nilson Dias e Thalles Aguiar, venceram o concurso “Jovens Empreendedores” com uma ideia inovadora e que pode servir de síntese do conceito “permacultura”. Trata-se do Bambu SmartPoint: um poste que tem sua estrutura toda em bambu e bambu laminado, impermeabilizado com resina de mamona e possui um sistema fotovoltáico que permite a recarga de smartphones em praças e outros locais públicos. O feito é comercializado e uma escola no Rio de Janeiro foi a primeira a adquirir um.

Por agregar um discurso sintonizado com as demandas atuais, a permacultura é – maciçamente – mais popular no universo jovem. Davi Faiani é estudante e acaba de concluir o ensino médio. Depois de cursar o Gaia Education (um programa de educação para a sustentabilidade), ele se encantou com as inúmeras propostas ofertadas pela permacultura: fator determinante para a escolha da profissão (engenharia florestal) e para direcionar suas pesquisas sobre “utopia” e construção de um mundo ideal, no trabalho de conclusão de curso do colégio. É ele quem acena um caminho otimista para as novas gerações, que herdarão um planeta doente mas com uma parcela da população já consciente de sua responsabilidade para com o meio. Ele diz: “Acredito que a minha geração esteja mais preocupada em consumir produtos que têm um impacto ambiental e social reduzido, mas não em reduzir – propriamente – o consumo. Mas, mais pra frente, acredito que as pessoas adotarão um modo de vida menos consumista e mais resiliente”.

A Revolução das Hortas, na íntegra: https://www.youtube.com/watch?v=j0oSiuPNe2w

Site do Instituto Pindorama: http://novo.pindorama.org.br/index/?folder=index