“O fígado é o órgão que dá ao ser humano a coragem para transformar uma ação pensada em uma ação consumada… O fígado é o mediador que possibilita a transformação de uma ideia decidida em ação executada pelos membros.”

Rudolf Steiner

O fígado… é …. o órgão que dá ao ser humano a coragem para transformar uma ação pensada em uma ação consumada… O fígado é o mediador que possibilita a transformação de uma ideia decidida em ação executada pelos membros. Rudolf Steiner

Analisar o fígado não é nada fácil visto que ele exerce múltiplas funções. Trata-se de um dos maiores órgãos do corpo humano, e além disso, é o elemento central do metabolismo intermediário – ou, para deixar clara a imagem – o laboratório do corpo. Vamos analisar rapidamente suas funções mais importantes:

Armazenagem de energia: o fígado produz glicogênio (amido) e o armazena (cerca de quinhentas calorias por quilo). Simultaneamente, os carboidratos são transformados em gordura e armazenados em depósitos de gordura por todo o corpo.
Geração de energia: com os aminoácidos e os componentes gordurosos ingeridos nos alimentos, o fígado produz glicose ( = energia). Toda essa gordura vai para o fígado e pode ser usada e queimada para produzir energia.

Metabolismo da albumina: além de criar aminoácidos, o fígado também é capaz de sintetizar outros. Assim, se torna um órgão de ligação entre a albumina (proteína) dos reinos animal e vegetal, que constitui a nossa alimentação, e a proteína humana. Os vários tipos de proteína são por certo bastante diferentes entre si, no entanto, os componentes que formam as proteínas – os aminoácidos – são universais. (A título de analogia, uma grande variedade de tipos de casas individuais – as proteínas – podem ser construídas com os mesmos tijolos, os aminoácidos). As diferenças específicas entre a proteína vegetal, a animal e a humana são as funções dos vários padrões em que os aminoácidos são organizados, sendo a sequência exata codificada no ADN.

Desintoxicação: tanto as toxinas do próprio corpo como as de outras procedências são desativadas no fígado e solubilizadas para serem eliminadas através da visícula e dos rins. Além disso, a bilirrubina (um produto da decomposição das células vermelhas no sangue, a hemoglobina) tem de ser transformada pelo fígado numa substância que possa ser expelida. Qualquer interrupção desse processo provoca icterícia. Finalmente, o fígado sintetiza a ureia que é expelida através dos rins.

Eis o sumário das funções mais importantes deste órgão tão versátil. Vamos iniciar nossa interpretação simbólica com o ponto mencionado por último, a desintoxicação. A capacidade desintoxicante do fígado pressupõe uma possibilidade de discriminar e avaliar, pois a desintoxicação se torna possível quando não se consegue separar o que é venenoso do que não é. Portanto, os distúrbios hepáticos sugerem problemas de avaliação e valorização, indicam incapacidade de optar pelo que é útil ou inútil (nutrição ou veneno?). Enquanto formos capazes de avaliar o que nos serve e o que não nos serve e soubermos até que ponto podemos processar e digerir os alimentos, nunca surgirá o problema de “cometer excessos”. O fígado só adoece devido aos excessos que cometemos: demasiada gordura, comer demais, beber em excesso, consumir drogas de forma exagerada, etc.

Um fígado doente mostra que a pessoa está assimilando algo em demasia, algo que ultrapassa sua capacidade de elaboração; mostra a falta de moderação, idéias exageradas de expansão e ideais elevados demais.

É o fígado que gera e distribui a nossa energia. O doente que sofre do fígado sofre consequentemente da perda dessa força vital e dessa energia: perde a potência, perde o apetite por comidas e bebidas. Perde, na verdade, a vontade em todos os âmbitos relacionados às manifestações de vida, e assim, corrige e compensa o problema através do sintoma que, nesse caso, se chama excesso. Trata-se de uma reação física contra sua imoderação e sua mania de grandeza, e a lição administrada é desapegar-se desses excessos. Visto que não são mais formados os fatores de coagulação sanguínea, o sangue se torna fluido demais; assim, o sangue do paciente , seu suco vital, literalmente se escoa. Através da doença, os pacientes aprendem a ser moderados, a ter paciência e a se controlar no que se refere a excesso de sexo, bebidas e alimentação. Podemos ver nitidamente essa condição no caso da hepatite.

Além disso o fígado tem uma forte conotação simbólica nos âmbitos filosófico e religioso, embora talvez não seja muito fácil para as pessoas chegarem a esta conclusão. Vejamos melhor o processo de síntese de proteínas. a proteína é o “tijolo da construção”, o elemento básico de toda a vida. Ela é manufaturada a partir dos aminoácidos. O fígado extrai a proteína animal e vegetal dos alimentos que ingerimos, alterando a organização espacial das moléculas dos aminoácidos. Em outras palavras, enquanto retém os componentes isolados de formação individual (os aminoácidos), o fígado altera o modo como os mesmos são estruturados no espaço, provocando um salto qualitativo e, por conseguinte, um salto evolutivo do reino vegetal e animal, para o reino humano. Ao mesmo tempo, porém, apesar deste avanço evolutivo, a identidade das moléculas é mantida e por isso elas conservam o elo com sua fonte. Portanto, a síntese da proteína é um exemplo microcósmico total daquilo que chamamos “evolução” no nível macrocósmico. Por meio de uma reorganização e de uma alteração do padrão qualitativo das “moléculas primordiais” sempre idênticas se cria uma infinita multiplicidade de formas. Através da constância do “material” tudo continua interligado, e é por isso que os sábios dizem que o todo está nas partes e que cada parte é o todo (pars pro toto ).

Uma outra expressão para transmitir esse conhecimento é a palavra religio, literalmente “conexão retrospectiva”. A religião busca nos unir coma fonte, com a origem, com o Todo- Uno e redescobre essa conexão e, virtude do fato de a diversidade que nos separea da unidade ser, em última análise, apenas uma ilusão (maya), que só acontece graças aos jogos dos vários arranjos (padrões) da mesma essência comum. É por esse motivo que o caminho de volta só pode ser descoberto pelos que conseguiram enxergar através da ilusão das diferenças de forma. O muito e o uno – é no campo entre ambos os pólos de tensão que trabalha o fígado.

Fonte: A Doença como Caminho (Thorwald Dethefsen e Rudiger Dahlke)

O FÍGADO E A VITALIDADE – Problemas comuns como depressão e enxaqueca podem estar relacionados ao fígado

Se nos últimos 50 anos ocorreram grandes avanços no tratamento e prevenção das doenças cardíacas, nos próximos 50 provavelmente assistiremos isso acontecer em relação às doenças do fígado. Além da hepatite C, que hoje acomete 3% da população mundial e supera a AIDS em número de casos, diversas outras doenças hepáticas passam ganhar maior importância nos meios científicos.

O fígado, maior víscera do corpo humano, é um de nossos órgãos essenciais. Pela veia porta chega ao fígado todas as substâncias absorvidas pelo tubo digestivo, com exceção de parte dos lipídios que é transportada por via linfática. Ao receber esses nutrientes, o fígado sintetiza proteínas e armazena glicose para ser usada nos períodos de jejum, além de vitaminas e gorduras.

Outras funções não menos importantes são a desintoxicação e neutralização de toxinas que tenham sido absorvidas, e a secreção de bile, que se concentra na vesícula, para participar da digestão especialmente de gorduras.

Cerca de 71% da composição do fígado é de água. Para se ter uma idéia comparativa, o sangue tem 78%. Por isso a medicina antroposófica o chama de “órgão água”. Ao lado disso ele participa ativamente do balanço hídrico do corpo humano. Como a água é o veículo imprescindível da vida, o fígado é o principal órgão da nossa vitalidade.

De acordo com Rudolf Steiner e Ita Wegman, criadores da medicina antroposófica, no metabolismo existem 2 ritmos complementares e alternados: a atividade biliar e a atividade hepática. A primeira é diurna, tem seu pico às 15 horas, é catabólica, caracterizada pela maior excreção de bile – o que explica a melhor tolerância aos alimentos gordurosos durante o dia. À noite, com pico às 3 horas, predomina a atividade do fígado, de anabolismo, de armazenamento de glicose.

Para a medicina antroposófica, as doenças psíquicas podem se originar na esfera orgânico-vital. Depressão e insônia, por exemplo, podem ter sua origem no metabolismo, especialmente no fígado, assim como a enxaqueca.
O fígado faz a individualização das substâncias e cuida do metabolismo energético, o que nos confere vontade, força para decisão e atuação. O correto funcionamento do fígado deve trazer os aspectos fleumáticos do temperamento: bem estar, aparência jovial e uma boa “metabolização” das vivências tristes, que não chegam a causar depressão. O mal funcionamento do fígado pode levar à fraqueza de vontade, inércia, depressão, sintomas digestivos (empachamento, gosto amargo, intolerância à gordura) e medo da vida.

Quando Hipócrates, o pai da medicina, nomeou a melancolia, ele fazia referência a um processo hepático mórbido (mélas, ‘negro’ + kholê, ‘bile’; melancolia: bile negra).

Para harmonizar o ritmo fígado – atividade biliar, algumas orientações alimentares são úteis. Na depressão, a pessoa não se interessa pelo mundo. Para que exista na alma esse interesse, deve-se formar no metabolismo a base do mesmo processo, relacionado ao alimento – que vem do mundo externo. Os amargos assumem papel central – rúcula, agrião, chicória, almeirão, boldo do Chile, mil folhas, losna, carqueja etc. Somados aos condimentos, eles fazem o processo digestivo ter mais “interesse” pelo alimento, aumentando a quantidade e a qualidade dos sucos digestivos. Devem ser evitados: açúcar concentrado, as gorduras animais e o leite (extremamente fermentativo), e àqueles cansados mentalmente deve-se recomendar raízes e tubérculos coloridos (beterraba, cenoura, mandioquinha, salsa, etc.) para vitalizar o sistema neuro sensorial.

Deve se dar preferência aos alimentos orgânicos, visando não intoxicar ainda mais o fígado com os agrotóxicos e fertilizantes químicos, usualmente encontrados nos alimentos não orgânicos.

Ritmo é fundamental, pois a base de nosso metabolismo está ligada ao ritmo, contrariamente às tendências da vida moderna. Sono e vigília; trabalho e descanso; horários regulares de alimentação – quando tudo isso ocorre com harmonia, existe uma capacidade vital maior.

Obviamente que esse é apenas o início de um tratamento mais profundo, que deverá ser conduzido por médico com experiência no assunto.

Visão semelhante tem a medicina tradicional chinesa, que considera que no fígado aloja-se o hun, a alma etérea, que dá a capacidade de realizar os sonhos, ter estratégias com discernimento e sabedoria, e é afetado pela raiva.
Ao lado daquilo que essas abordagens médicas holísticas dão aos problemas do fígado, cabe a cada um cuidar bem de sua vitalidade, para assim assistir o que virá nos próximos 50 anos. Ou 100.

Fonte: http://www.antroposofy.com.br/forum/o-figado-e-a-antroposofia/