Para celebrar essa data tão especial, selecionamos alguns trechos do livro “Autobiografia de um Iogue” que relatam passagens da infância do mestre indiano.

Não deixa de ler, também, a resenha sobre “Autobiografia” – considerado um dos cem melhores livros espirituais do século XX: https://culturadapaz.com.br/autobiografia-de-um-iogue/

 

Os pais de Yogananda

os pais do mestre

“Nasci em 5 de janeiro de 1893, em Gorakhpur, no nordeste da Índia, perto das montanhas do Himalaia. Ali passei meus primeiros oito anos. Éramos oito irmãos: quatro meninos e quatro meninas. Eu, Mukunda Lal Gosh, fui o quarto a nascer e o segundo varão.

Meu pai e minha mãe eram bengalis, da casta xátria. Ambos foram abençoados com uma natureza santa. O mútuo amor que os uniu, tranquilo e digno, nunca se expressou com frivolidade. Sua harmonia conjugal perfeita era o foco de serenidade em torno do qual girava o tumulto de oito filhos pequenos.

Meu pai, Bhagabati Charan Ghosh, era bondoso, sério, às vezes rigoroso. Embora lhe tivéssemos muito amor, nós crianças mantínhamos para com ele certa distância que beirava a reverência. Excepcional em matemática e lógica, ele guiava-se principalmente por seu intelecto. Minha mãe, porém, era uma rainha de corações e nos educou inteiramente pelo amor. Depois que ela morreu, papai externou mais sua afeição interior; notei que seu olhar muitas vezes parecia metamorfosear-se no olhar de minha mãe.

Foi em presença de mamãe que travamos os primeiros contatos agridoces com as Escrituras. Ela recorria ao Mahabharata e ao Ramayana para dali retirar histórias adequadas às exigências disciplinares.”

 

Lahiri Mahasaya

Aos oito anos de idade aproximadamente, fui abençoado com uma cura maravilhosa graças ao retrato de Lahiri Mahasaya. Essa experiência intensificou meu amor. Quando estávamos na propriedade familiar de Ichapur, em Bengala, contraí o cólera asiático. Fui desenganado pelos médicos, que nada podiam fazer. À minha cabeceira, mamãe incitava-me freneticamente a olhar para a fotografia de Lahiri Mahasaya presa à parede, acima de minha cabeça.

sLahiri-Loto

– Curve-se diante dele mentalmente! – Ela sabia que eu estava fraco demais, até para erguer as mãos em saudação. – Se realmente mostrar sua devoção e se ajoelhar interiormente diante dele, sua vida será poupada!

Olhei fixamente a fotografia e vi uma luz cegante, que envolvia meu corpo e o quarto inteiro. O enjoo e outros sintomas incontroláveis desapareceram; eu estava curado. Imediatamente senti força suficiente para inclinar-me e tocas os pés de minha mãe, em gesto de reconhecimento por sua fé incomensurável no guru. Minha mãe comprimiu a cabeça várias vezes contra o pequeno retrato:

– Ó  Mestre Onipresente, agradeço-te por tua luz ter curado meu filho!

Compreendi que ela também havia presenciado o resplendor luminoso que tinha me recuperado instantaneamente de uma doença quase sempre fatal.

 

Uma experiência mística

Pouco depois de minha cura por meio do poder da fotografia do guru, tive uma visão espiritual que muito me influenciou. Sentado em minha cama certa manhã, entrei em profundo devaneio.

– Que haverá por trás da escuridão dos olhos fechados? – Este pensamento inquiridor entrou com força em minha mente. Um imenso clarão de luz manifestou-se instantaneamente em minha visão interior. Divinas figuras de santos, sentados na postura de meditação em cavernas de montanhas, passavam, como imagens de um filme em miniatura, na grande tela brilhante dentro da minha testa.

– Quem são vocês? – perguntei em voz alta.

– Somos iogues do Himalaia. – É difícil descrever a resposta celestial; meu coração vibrava.

– Ah, como anseio ir ao Himalaia e tornar-me um de vocês! – A visão desapareceu, mas os raios prateados expandiram-se em círculos cada vez maiores, até o infinito.

– Que maravilhoso esplendor é este?

– Eu sou Ishwara. Eu sou Luz! – A voz era de nuvens murmurantes.

– Quero unir-me a Ti!

Do lento desvanecer-se do meu êxtase divino ficou-me um legado permanente de inspiração para buscar Deus. “Ele é Alegria eterna, sempre renovada!” Esta lembrança perdurou longamente após o dia do arrebatamento místico.

 

As pipas

Nossa família transferiu-se para Lahore, no Punjab. Lá comprei uma gravura da Mãe Divina sob a forma de Deusa Kali, que santificou um pequeno altar informal na sacada de nossa casa. Fui tomado pela inequívoca convicção de que todas as orações que eu fizesse naquele lugar sagrado seriam atendidas. Certo dia, de pé na sacada, em companhia de Uma, observei dois meninos empinando pipas sobre o telhado de dois edifícios vizinhos, separados de nossa casa por uma rua extremamente estreita.

– Por que está tão quieto? – perguntou-me Uma, dando-me um empurrão de brincadeira.

– Estou pensando como é maravilhoso que a Mãe Divina me dá tudo o que quero.

– Suponho que Ela lhe daria aquelas duas pipas! – minha irmã riu, caçoando de mim.

– Por que não? – iniciei silenciosas orações para obtê-las.

pipas

Na Índia, os meninos fazem competições com pipas cujas linhas são recobertas de cola e vidro moído. Cada jogador procura cortar a linha de seu adversário. Uma pipa solta voa sobre os telhados; é muito divertido ir apanhá-la. Estando Uma e eu numa sacada interna, recoberta de telhas, parecia impossível que uma pipa solta viesse cair em nossas mãos; sua linha naturalmente passaria flutuando sobre o telhado.

Do outro lado da estreita viela os competidores começaram o combate. Uma das linhas foi cortada; imediatamente a pipa flutuou em minha direção. Em razão de uma súbita ausência de brisa, a pipa permaneceu imóvel por um momento; nessa pausa, a linha enroscou-se em um cacto que havia no terraço da casa em frente. Um longo e perfeito laço se formou para que eu a pegasse. Passei o troféu para Uma.

– Foi apenas um acidente fora do comum, não uma resposta
à sua oração. Se a outra pipa vier até você, então acreditarei.

Os olhos negros de minha irmã denunciavam mais assombro que suas palavras. Continuei a orar intensamente. Um puxão mais forte do outro jogador causou a brusca perda de sua pipa. Ela veio em minha direção, dançando com o vento. Meu prestativo ajudante, o cacto, novamente prendeu a linha da pipa com o laço suficientemente longo para que meu braço a alcançasse. Apresentei o segundo troféu a Uma.

– Realmente a Mãe Divina o escuta! É tudo misterioso demais para mim! – E minha irmã disparou a correr como uma corça assustada.

 

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autobiografia de um iogue Em “Autobiografia de um Iogue”, Paramahansa Yogananda oferece um verdadeiro portal para a compreensão da filosofia indiana narrando sua infância, a peregrinação em busca de seu mestre espiritual, a vida de cada um dos mestres de sua linhagem (Mahavatar Babaji, Lahiri Mahasaya, Sri Yukteswar), a fundação de uma escola baseada nos princípios da ciência da Yoga, sua vinda para a América e uma peregrinação pela Europa e Oriente, onde teve contato com grandes santos e mestres espirituais da época. É também um passo inicial seguro para quem deseja conhecer a ciência da Kriya-Yoga, técnicas científicas avançadas de meditação iogue. Edição completa, editada pela Self-Realization Fellowship, organização espiritual sem fins lucrativos fundada por Paramahansa Yogananda em 1920, com sede internacional nos EUA.
Considerado um best-seller, integrante da lista dos cem maiores livros espirituais já publicados em todo o mundo, é editado há mais de 60 anos, atualmente em quase 30 línguas e é uma das maiores revelações já publicadas no Ocidente sobre as profundezas da mente e do coração hindus e a riqueza espiritual da Ciência da Yoga. Livro de cabeceira de famosos como George Harrison, Steve Jobs, Gilberto Gil, entre outros.